"e o aqui mesmo é o avesso
Passado por dentro do aqui mesmo"
Jean-Pierre Duprey, Movimento
Ao abrir as asas, o pássaro a confunde com a cortina vermelha se esgueirando pela porta entreaberta. Sentando-se na janela, o sol deixa um caramujo percorrer seu indicador. Há uma pérola oculta nos redemoinhos da casa, gota que o coração lançou no céu ao sorrir com todos os dentes e sem luvas. Porém, agora ela se oculta como a criança que leva na palma da mão um cílio verde trazido da floresta, atravessando os séculos ao cruzar o jardim, desafiando a morte. Quando a noite devora as paredes emplumadas em volta, as descobertas são guardadas na caixinha de música óssea, cintilante a cada passo. Sonolento, o pássaro bate asas: eles estão no clarão das folhas, pois a casa virou do avesso.
Natan Schäfer (Curitiba, PR)