Editorial Vol. 6 | número 4 | abril de 2017
— 1 de abril de 2017Se chegasse à nossa cidade um homem aparentemente capaz, devido à sua arte, de tomar todas as formas e imitar todas as coisas, ansioso por se exibir justamente com os seus poemas, prosternávamos diante dele, como de um ser sagrado, maravilhoso, encantador. Mas dir-lhe-íamos que na nossa cidade não há homens dessa espécie, nem sequer é licito que existam, e mandá-lo-íamos embora para outra cidade, depois de lhe termos derramado mirra sobre a cabeça e de o coroado de grinaldas.
PLATÃO. A República, Livro III, 398b.
Bem-vindos ao número que, possivelmente, é o mais cor-de-rosa da história da Subversa. Parece que cai bem, neste primeiro de abril, dia em que se destaca a mentira e a enganação que acompanham a realidade, ombro a ombro, diariamente.
Podemos até dizer que nesta data, curiosamente, falamos muito mais a verdade, à medida que a mentira é escancarada. Um dia para assumir que mentir faz parte.
Pensando assim, no calendário da literatura não há outro dia senão o primeiro de abril. Não há outra forma de revelar a verdade senão através de sua face ficcional, existente em tudo. Não há literatura sem a expressão de uma forma única de escrever, ainda que toda a literatura seja também uma cópia infinita de mentiras anteriores. Como bem afirma o angolano Júlio de Almeida, em entrevista, “rir das próprias desgraças tem a vantagem de, sem escamotear ou denunciar de erros e dificuldades em que se está envolvido, apresentá-los com a confiança de que serão ultrapassados”. Ou, ainda, a afirmação da portuense Daniela Sá, autora das ilustrações deste número, que desenha “quando não está a escravizar-se ou a ler”. É aí, justamente, onde parece estar a graça de tanta mentira.
Desejamos uma leitura cor-de-rosa a todos.
As editoras.
DOUGLAS SIQUEIRA | LAMENTO
FELIPPE REGAZIO | TRÊS POEMAS PARA CHAMAR DE COMEÇO, MEIO E FIM
GABRIEL DE ATAIDE LIMA| O ANEL
HELDER S. ROCHA | PRESENÇA DE C.L.
JHENIFER SILVA| MODO DE DIZER PONTO COM
LEANDRO RAGAZZI | PLEONEXIA
LIZZIANE NEGROMONTE AZEVEDO | AO ESPREGUIÇAR DO SOL
LOECY ROSA DAMÁSIO | TONEL DE DANAIDES
MAGNO MELLO| UMA CENA DE METRÔ
VANDER VIEIRA | NÃO HÁ TRÂNSITO
Entrevista: Júlio de Almeida e seu romance “Vaicomdeus, SARL”