Rogai por nós, Poesia! | Resenha do livro “Eu não sou a protetora das coisas frágeis”, de Íris Ladislau
— 3 de fevereiro de 2021
“Santificada seja
por manter-me presa
Na tua prisão
encontrei
Plenitude”*
Eu-lírico sufocado, esmagado pelo peso do sentimento, ao qual renega, mas não consegue abrir mão é o que encontramos durante a leitura de Eu não sou protetora das coisas frágeis (editora Penalux, selo Auroras). Mais comumente autora de narrativas, Íris Ladislau apresenta sua obra onde as facetas do amor são colocadas em situações ritualísticas, contrapostas na eterna dualidade entre sagrado e profano.
Ao abrir o exemplar, o leitor é preparado para o que está por vir quando depara-se com a epígrafe de Edgar Allan Poe, na qual nos impele a tatear no escuro dos mais profundos sentimentos e sentir a vibração do terreno no qual pisamos. A obra conta com 40 poemas, divididos em 3 partes, seguindo uma liturgia de rogo, súplica, endeusamento, pecado, choro e arrependimento.
O ser amado, apresentado como uma Pandora, tudo dá e tudo tira e parece não atender à súplica litânica, pois ao responder ao rogo, afirma: “eu nunca estive aqui”. E ao mesmo tempo em que nega a presença, aprisiona. Com uma figura de anjo profano, com olhos que trazem a perdição e luz que revelam os caminhos das trevas: “eu afundei/em seus olhos/anjos de luz/.
A construção poética apresenta um ritmo que nos remete a uma cantilena, uma entoação laboriosa, marcada no tempo por suas pausas, por suas lacunas a preencher, que é insistente no resgate de algo passado ou no pedido de perdão diante do seu arrependimento e sua repetição pelo arrependimento. Como podemos ver na passagem do poema “Estátua de sal”, onde eu-lírico está sempre em busca de uma imagem que tenta, mas não consegue abandonar; apresentando-se sempre com os olhos em busca:
“Em um caminho movediço
Aprendo a dizer-te não
Exaurida sobre o pélago
Quero apenas atravessar
Esse colapso em que tropeço
Deixo tudo a desintegrar
Mas ouço ao longe sua intrepidez
E volto os olhos a ti mais uma vez.”
Assim, condenado à imobilidade de uma estátua, o eu-lírico confunde-se em palavras enganosas, que apesar de falsas, são como um deleite: “mas para alguém que cai/suas palavras pareciam asas”. Ciente da ilusão que há nos olhos do ser amado, mantém-no no coração, caracterizado como uma frágil peça, a qual então não consegue proteger, incapaz de controlar a fome obsessiva: “incapaz de sustentar os meus excessos/incapaz de controlar os meus excessos”. Impaciente e impulsivo, este eu-lírico não consegue quebrar a corrente, e peca e chora. E ama e chora. Repete e repete, roga perdão, roga por intervenção mas não consegue se libertar, pois o fogo que o consome, caminha junto, e ajoelha, rogando e rogando, repetindo a litania:
“impaciente demais para resistir
impulsiva demais para negar
Sabendo que o fogo vai me consumir
não faz diferença sentar e esperar
pois o fogo caminha comigo
e depois do castigo
ajoelho-me à espera
da graça divina.”
Tânia Ardito
Fabíola Weykamp
“Eu não sou protetoradas coisas frágeis”, de Íris Ladislau está em pré-venda no site da Editora Penalux. http://www.editorapenalux.com.br/loja/iris-ladislau/eu-nao-sou-a-protetora-das-coisas-frageis
Quer saber mais sobre a obra e a autora? Confira a entrevista que publicamos em janeiro 😊 http://revistasubversa.com/coluna/entrevista-iris-ladislau-a-forca-da-poesia-e-algo-muito-misterioso-e-sem-duvida-a-vida-seria-mais-dificil-sem-ela/
*Todos os trechos de poemas apresentados no texto são parte da obra resenhada
Deixe uma resposta