Quase ascensão | Um Lírio sobre os Olhos
— 9 de janeiro de 2018Seduz em silêncio
este abandono de corpo,
este despojo de pétalas
e aromas azuis,
esta ausência clara
de olhar e ser.
A vida parece bastar,
se vivida num só dia.
Em cada hora,
em cada passo,
as dobras da memória vadia
depositam-se em vão
na aragem entardecida.
Por tanta cor,
por tantos perfumes
de indecifráveis origens,
somos gotas de água
esquecidas dum oceano milenar.
Talvez, quando as manhãs
nascerem de cinzas
e as pedras abrirem em flor,
consigamos ser estrelas
timbradas no rosto da eternidade.
PEDRO BELO CLARA nasceu em Lisboa, Portugal. Um ocasional prelector de sessões literárias, actualmente é colaborador e colunista de diversas publicações literárias portuguesas e brasileiras. O seu último trabalho foi dado aos prelos sob a epígrafe de “Quando as Manhãs Eram Flor” (2016). É o autor dos blogues Recortes do Real, Uma Luz a Oriente e The beating of a celtic heart.
10 Comentários
show
Obrigado pela sua leitura.
Abraço.
Que beleza de poema!! A sensibilidade do poeta Pedro, faz desse texto algo tão puró, leve, profundo, que toca minha alma.
Parabéns, Pedro Belo Clara!!!!!
Obrigado pelas suas gentis palavras, Rosa. E pela fidelidade das suas leituras. Fico-lhe grato.
Beijos.
Inicia bem o ano Pedro, é lindo o Poema, um abraço.
Muito obrigado, Susana. Pela gentileza do seu comentário e pela amabilidade de me ler.
Beijos e até breve.
Sinto um perfume doce que evola no ar, penso que nascem de cada verso seu: “as pedras nasceram flor, somos ‘estrelas timbradas’ neste céu de eternidade. Poemas são eternidades de alegrias perenes…
Cada poema será, sim, uma eternidade condensada, por vezes um vislumbre de infinito condensado na eternidade possível. Eliot dizia: «cada poema é um epitáfio». Tinha razão, o grande poeta.
Agradeço a sua visita e o comentário que deixou, Lígia.
Beijos.
Bravo!
Muito obrigado pela simpatia do seu comentário, caro amigo. Abraço.