NUMA MANHÃ DE OUTUBRO | Pedro Belo Clara
— 10 de outubro de 2020
Qualquer olhar mais distraído
julgaria um rabirruivo
vagueando entre sombras.
Que presença madrugadora
toma os portões da casa branca?
Dir-se-ia perdida em ânsias de saber
a canção com que os melros
saudariam o sol nascente,
talvez em expectativa de descobrir
qual o reflexo da luz matinal
nos globos que alaranjam o jardim.
Inquietação por correspondência,
somente.
E nisto a jovem se consome,
entre rápidas vigias à rua funda
e tamborilar de dedos no muro,
esquecida dos melros que saltitam,
da luz que escorre dos laranjais,
do chá que se esfuma
na brisa já de marítimo odor.
Entre os ruídos do anseio
o coração aconselha:
Amor não conhece apego.
PEDRO BELO CLARA nasceu em Lisboa, Portugal. Um ocasional preletor de sessões literárias, atualmente é colaborador e colunista de diversas publicações literárias portuguesas e brasileiras. O seu último trabalho foi dado aos prelos sob a epígrafe de “Lydia” (2018). É o autor dos blogues Recortes do Real, Uma Luz a Oriente e The beating of a celtic hear.
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