divido contigo minha falta | Astronauta de Pulôver Azul Néon
— 25 de março de 2018Fabíola Weykamp
tem sido infame
assistir ao computador desligado
as telas todas o meu reflexo
as janelas todas fechadas
os vidros todos o meu reflexo
no chão a água da chuva sob meus pés
sobre a água da chuva meus pés em reflexo
abaixo de mim
quase não vejo, mas está ali
cabeça baixa
ombros dados, por hora caídos
a memória refratada como o sol batendo no peito do asfalto
o calor deserto do inverno que ninguém ousa habitar
companhia solo
como as mães solo que nascem todo dia
feito primavera persistente no coração do mundo
todo dia a mãe solo se reinventa na solitude
insurgente necessidade
antes só que/
mas tem sido infame o reflexo
projeção e lacan
freud e projeção
projeção e projetar-se
lacan e freud-se
tem sido infame
ninguém supõe
mas estar fora aqui
era melhor estar dentro aqui,
justo aqui
exatamente na palavra dentro
no poema dentro
que escavo desde muito
dentro
porque é infame
computador asfalto mãe solo deserto inverno foras
foi infame ontem
é infame hoje
enquanto reinvento palavra habitar
para caber no indizível coexistir que me cabe aqui
talvez sina pura
pouca arte nem de longe
ainda que totalmente de minha parte essa sorte contida
esteja breve no contexto hoje
por completo signo
contíguo significado
habitat puramente arbitrário
dentro mediante espaço
dentro mediante tempo
dentro média mente
dentro infame
infame o poema onde tudo cabe
cabe o que ninguém sabe
FABÍOLA WEYKAMP tem seu primeiro livro de poemas “Resenhas da solidão – um livro de poesia e dor cotidiana”, publicado pela Editora LiteraCidade, Belém/PA, 2015; obra ganhadora do Prêmio LiteraCidade Jovem, 2014. É colunista da Revista Subversa e está editando novo livro para publicação | FABIWEYKAMP@YAHOO.COM.BR | Clique aqui para ler mais textos da Fabíola.
Deixe uma resposta