Alma Sebosa | Fabíola Weykamp
— 25 de agosto de 2019(…) “Nos mesmos rios estamos e não estamos
Esse é o barco que ninguém conduz”
Dan Nakagawa
ser viúva de
alma penada viva
transeunte pelas mesmas vias
amigos espalhados em cada canto
em cada porta e esquina que se cruze:
o rosto familiar fantasmagórico
é de um mau gosto trágico, sem açúcar
incômodo como uma espinha inflamada
que se tenta esconder
debaixo da franja recém cortada
esconder sob camada e mais camada de maquiagem
mas basta um respingo de lucidez ou lágrima
e a maldita mostra-se
exibida, acenando para quem vem e vai
sem o menor pudor de coexistir
mesmo depois da puberdade horripilante
mesmo depois dos trinta desanimado
mesmo depois de tudo que
não sobrevive nem se inventa (nem se ausenta)
alma sebosa que assombra
sem susto esse corpo teimoso
(de escandalosa matéria exausta)
assombra sem susto
carregando o fardo do marasmo
a mesmice
a mesmíssima e terrível falta de novidade
da lembrança que surge
ao fato de agora
toda vez que se olha em um espelho
e salta aos olhos o
excesso do que restou
porque é, em si, um amontoado de resto
de olhos abatidos e olheiras sem grito
falhando também como fantasma
FABÍOLA WEYKAMP tem seu primeiro livro de poemas “Resenhas da solidão – um livro de poesia e dor cotidiana”, publicado pela Editora LiteraCidade, Belém/PA, 2015; obra ganhadora do Prêmio LiteraCidade Jovem, 2014. É colunista da Revista Subversa e acaba de publicar “Ensaio sobre a Solidão”, pela Editora Penalux. | FABIWEYKAMP@YAHOO.COM.BR | Clique aqui para ler mais textos da Fabíola.
1 Comentário
Prezada poeta,
Interessante seu poema do ponto de vista gramatical e a estrutura do mesmo. Marasmo, cansaço, desânimo e uma sensação de letargia chegaram aqui, quando fiquei imaginando a história deste eu lírico.
Desculpe a franqueza já li poemas seus mais inspiradores, pois tens muito talento.
Sei que a arte não tem a função de agradar gregos e troianos. Apenas, fiquei refletindo ao ler o poema sobre o que assola a vida de todos nós, e dos poetas.
Melhoras na situação que nos encontramos, menos olhos abatidos e “cansaço” de existir.
Att,
Clara Corrêa