O terrorista no seu jardim | Felipe Fortuna
— 5 de dezembro de 2018Como se pensa na flor
seu pistilo ornado, arquitetônico
no fundo carmim iridescente
e pequenos estames feito fagulhas,
logo se pensa no terrorista
seu corpo encapsulado e sólido
a antera pronta para explodir
e o cinturão de fios e caixas pretas
para estilhaçar os ossos torácicos
e arrancar os braços em torno
na estação de metrô, no entra e sai
de quem precisava chegar.
Então se pensa no jardim
de nenhuma flor, de plantas apenas
que fazem cair pelas paredes serosas
com pelos para baixo, impossíveis de escalar,
ou plantas viscosas que tornam lentos
os batimentos e os passos,
ou ainda as que súbito sugam
e passam a digerir.
O terrorista renasce aqui
sem estátua, sem saudação
a imaginar o paraíso ou a vitória,
suas mãos dormentes, encarniçadas.
Felipe Fortuna, “O mundo à solta”, TopBooks, 2014.
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