O som um corte | Milena Martins Moura
— 14 de março de 2021venta forte no topo das árvores
………….hoje
é preciso soprar as sílabas
as palavras mal lavadas pela chuva
ricocheteando
………….paredes
………….………….tijolos molhados
telhados
vêm doer nos meus ouvidos
………….repetidos idos idos
eco nas cavernas de dentro
………….crânio
É preciso segurar os braços da vida
antes que ela mate mais um!
palavras arrogantes
pairando sobre o não verbal
………….palavra falha
falta verbo nesse peito amordaçado
………….um dicionário
………….cheio
………….na inutilidade do verbo
vai ser sempre apenas minha a aspereza do som
apenas minha a aspereza do som
sem o que a nomeie para passar a dor adiante
………….apenas minha
dentro da boca
o amargo do sangue
………….vertendo
………….………….dentro
dos ossos jogados à parede
………….tenho medo
………….………….tenho sede
apenas o nome é que evapora no vento
será sempre apenas minha
………….a palavra devorada
o silêncio vem depois dos assovios
e o meu corpo demora a desaprender o desespero
Milena Martins Moura | Rio de Janeiro, Brasil| é mestre em literatura brasileira pela Uerj e tradutora. Autora dos livros Promessa Vazia (2011) e Os Oráculos dos meus Óculos (2014). Publica poemas, fotografias e pinturas no Instagram @oraculos_dos_oculos. |milenamartinstradutora@gmail.com.
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