hiena presidencial | Douglas Laurindo
— 14 de março de 2021
o riso abdicou do tom corpóreo
e do reflexo histórico-intuitivo.
passou a ser emitido, e só,
por aqueles em cuja posição de caça,
cor e poder acreditam.
o caçador que sobre duas pernas
espreita, abjeto e alheio, tantas outras
carnes das quais o presidente da savana,
de soslaio e certo enjoo, desfez-se com
pretensão de um quadro institucional novo.
presa preta, indígena e a tal da fêmea
o artigo 1º lhes assiste a regressão ao campo,
à mata e a casa, com direito ao silêncio
pão e água. agora quanto àquelas
presas afeminadas e trans-travestilizadas
confira, sr. juiz: o estado assegura-lhes só a calçada?
a resposta das hienas é sim, enquanto se desfazem,
no grande palácio, em gargalhada e escoam
baba sebenta, nojenta como o pão doado
às espécies do ecossistema
sem vida e garantia,
a respeito das quais recai
toda miséria e negligência vivida.
quando incumbida da limpeza nas redondezas,
a tropa carnívora sai em busca de corpos desencaixados
de toda barbárie, farsa e padrão antiético, repassados em cada abate,
entrevista e repressão diária.
senhor presidente, deve-se abordar para garantir?,
quis uma das hienas perguntar.
é claro, posto lema: torturar a fim de matar.
Douglas Laurindo | Manaus, Brasil | douglaslaurindo35@gmail.com
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