Fruteira | Angel Cabeza (Rio de Janeiro, RJ, Brasil)
— 30 de setembro de 2015Ilustração: Isabela Jerônimo
A diferença entre eu e esta maçã
pousada na fruteira é o prazo
de validade que temos.
Dois objetos mastigados pela ávida
ampulheta que não regurgita restos
engole o vasto espaço.
A maçã
enterrada entre seus pares
pende seu último suspiro
pela folha seca
eu aguardo o meu
enterrado entre olhares e dentes.
Seguimos encharcados de doçura e polpa
coisas despercebidas
que só os insetos parecem entender
enquanto passeiam calmos
sobre a escuridão da casca.
Quem passa ao redor
não imagina a dor da colheita
saber-se semente
na aparência de trevas.
A fruteira embala o peso da rapidez do dia
os sapatos deformam a longevidade do prazo humano
não tão duradouro quanto o aroma da fruta
que perpetuará depois da secura.
ANGEL CABEZA é poeta, cronista e jornalista. Atua como produtor editorial e gráfico no RJ. Publicou os livros Vidro de guardados (2010, ed. autor, poemas), Sempre existe um último momento (2011, Hífen Editorial/Ed. Autor, crônicas). Possui textos em revistas impressas e digitais, no Brasil e na Espanha, entre elas Correio das Artes (A União), Generación Espontanea, Corsário, Bula, Cuarto Própio, Capitu, Zunai, Eutomia, Cronópios, Odara, Sinestesia; e participou de algumas antologias, entre elas Geração em 140 Caracteres (Geração Editorial, 2012), Qasaêd Ila Falastin – Poemas Para a Palestina (Patuá, 2012), Antologia Escritores da Língua Portuguesa Vol. I (ZL Editora, 2014). | ANGELCABEZA@OI.COM.BR
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