Editorial Vol. 13 | n.º 03 | outubro de 2020
— 14 de outubro de 2020
“O passado sabe muito de nós. O eco entre passado e presente pode bem ser uma evidência, mas é necessário poder materializá-lo, refletir suas maneiras de ser pensado, sem nunca cair na simplificação ou em quaisquer anacronismos insignificantes. A necessidade de trabalhar em tensão parece primordial. Nada é semelhante, e a história não apenas não se repete, mas contém em si mesma a juventude e a violência da imprevisibilidade. Os eventos, as grandes orientações, o mundo dos sentimentos, não são invariantes”
Arlette Farge, 2011
A citação acima é de uma historiadora francesa que tenta entender, nos autos de seus setenta e nove anos de idade, como é que o passado realmente se torna passado por meio das formas criadas para materializá-lo. Isso se aplica muito bem à arte e à vida, assim como na maneira como uma se infiltra na outra e faz com que ficção e realidade andem de braços dados por aí.
As formas existem não só para embelezar e agradar. Isso também importa muito, mas elas existem sobretudo para encaixotar o vivido de forma a elevar os significados da realidade à sua própria matéria prima. A narrativa ficcional faz do passado uma memória inesquecível, mas também irrepetível. Conta o que aconteceu, o que não aconteceu e tudo o mais que souber no “se tivesse acontecido”. Completar as lacunas da vida com versos, como fazemos aqui todos os meses, nos parece uma forma efetivamente prazerosa de criar a nossa própria história.
Desejamos a todos uma boa leitura.
As editoras,
Tânia Ardito
Fabíola Weykamp
Morgana Rech
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